Advogado que lida com negócios tem salário maior.
A escassez de advogados que
também entendem de negócios faz com que esses profissionais recebam salários
maiores dos que os pagos em áreas tradicionais, como a cível e a trabalhista.
Um guia
salarial da consultoria de recrutamento Hays, divulgado neste mês, mostra que
os advogados com maiores remunerações são aqueles que atendem as corporações em
temas como mercado de capitais, fusões e aquisições, análise societária,
mercado imobiliário, infraestrutura e energia.
Por
exemplo, um advogado sênior no direito trabalhista recebe ao ano entre R$ 104
mil e R$ 170 mil em São Paulo, de acordo com a pesquisa. Já um especialista
sênior em direito societário ganha entre R$ 117 mil e R$ 200 mil.
Raphael
Falcão, diretor da Hays, diz que esses advogados ganham mais por serem mais
raros. "Outro fator muito importante é que os escritórios de advocacia
costumam ganhar fatias dos contratos que negociam", afirma.
De
acordo com a Hays, outro advogado muito procurado pelas empresas hoje é o
especialista em "compliance". É o profissional que verifica se
práticas da companhia estão em conformidade com as leis e o regulamento
interno, prevenindo fraudes.
|
O advogado Giovanni Falcetta, 32, escolheu essa
área para atuar no escritório Aidar SBZ por considerar que esse tipo de
conhecimento será cada vez mais mais procurado. "Temos mercados mais
regulados no Brasil e no mundo, então essa política é necessária para cuidar
até do patrimônio intangível da empresa [como sua marca]."
Para adquirir esses conhecimentos, ele fez
especializações e um mestrado na Itália.
"Os advogados vão ter que se diferenciar cada
vez mais nesse mercado se quiserem melhores posições. A concorrência para
entrar na pós-graduação já é similar à registrada na graduação", afirma
Emerson Ribeiro Fabiani, coordenador da Direito GV.
Na instituição, o curso de pós-graduação em direito
societário tem mensalidade de R$ 1.728,73. Esse tipo de especialização é visto
como um investimento para a carreira, mas profissionais da área afirmam que o
melhor é, primeiro, buscar noções práticas.
Um dos caminhos para isso é estagiar em escritórios
que tenham especialidades distintas. Foi o que fez Ana Karina Esteves de Souza,
36, sócia da área de infraestrutura do escritório Machado, Meyer, Sendacz e
Opice Advogados e especialista no setor de energia.
"No quarto ano, comecei a estagiar aqui e fui
exposta ao dia a dia dos negócios. O trabalho em temas como arranjos
societários, diagnósticos jurídicos e leilões de energia foi me atraindo",
diz Souza.
"Com o tempo, fui formando minha equipe e
construindo uma carteira de clientes."
|
FALHA NA GRADUAÇÃO
Mas a maior parte dos profissionais de direito no
país tem formação deficitária. É o que diz Braz Martins Neto, conselheiro da
OAB-SP . "Há uma mercantilização do ensino: a maioria das escolas não se
preocupa com a formação", diz.
"Em São Paulo, temos entre 35 mil e 40 mil
bacharéis formados por ano, mas só cerca de 40% conseguem passar no exame da
ordem", afirma.
Segundo os últimos dados do Inep (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), em 2011 o país tinha 1.121
cursos de direito e 95 mil formados.
De acordo com Neto, isso leva muitos profissionais
de direito a receberem menos de R$ 3 mil por mês ou apenas tentar passar em
concursos públicos.
"Mas o advogado com talento, boa formação e
dedicação sempre terá boas posições, seja no direito tradicional seja no
cenário que envolve a cadeia de produção."
Comentários
Postar um comentário